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sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Qual igreja queremos!!!!

“Que a igreja seja Igreja”
(Por Pr. Claudionor de Andrade)


Hoje, durante o almoço, um convidado ilustre, dispensando exórdios e etiquetas, perguntou-me: “Qual o maior desafio da igreja evangélica?” A pergunta não chegou a surpreender-me, porque eu já vinha maturando o assunto. Não tive, por isso, dificuldades em responder-lhe: “Nosso maior desafio, hoje, é voltar a ser Igreja”. 

Como não tinha tempo para costurar outras considerações, generalizei umas coisas aqui, especifiquei outras ali. E calei-me sobre muitas. Não sei se o meu interlocutor deu-se por satisfeito. Mas, naquele momento, era tudo o que eu podia dizer-lhe.
Gostaria de haver explicado àquele homem gentilmente culto que, à medida que nos robustecemos como organização, debilitamo-nos como organismo. E, se ganhamos alguma coisa em quantidade, já começamos a perdê-la por falta de qualidade. O futuro? Só Deus sabe. Infelizmente, o que tanto temíamos acabou por acontecer: o nominalismo já é uma epidemia entre nós. Por isso, é-nos bastante apropriado o diagnóstico que o Senhor fez de Sardes: “Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto” (Ap 3.1).

Tornamo-nos ricos, poderosos, influentes. Bastamos a nós mesmos. Hoje, não precisamos mais evangelizar para crescer. O aumento vegetativo é suficiente para manter-nos a pujança dos números. Então, por que gerar filhos espirituais se os bebês, apesar de raros, ainda nos incham os róis e as estatísticas? Nessa dormência espiritual, crescemos para dentro e minguamos para fora.

Nossas demandas internas são tão urgentes, que já não temos tempo para tratar de coisas importantes como evangelismo e missões.
Florescemos como império. Mas, como Reino de Deus, murchamos. Os passos encurtaram e diminuíram, mas os paços alongaram-se e fizeram-se mais suntuosos. E os nossos pés? Dantes tão calejados, porém formosos, agora são mais delicados que os da esposa de Cantares. E, nem por isso, fizeram-se mais limpos.

Antes, éramos arrolados entre os mártires, agora, enrolados com os ricos e famosos. Outrora pobres, enriquecíamos a muitos. No presente, temos ouro e prata, porém já não temos autoridade para declarar: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!” (At 3.6) Sim, de nada temos falta. Mas a nossa miséria espiritual já não pode ser disfarçada. Como se não bastasse, ainda nos orgulhamos de uma visão administrativa que vê tudo, menos o Reino de Deus na manjedoura.
Ontem, o mundo nos odiava, porque éramos biblicamente corretos. Hoje, o seu príncipe nos bajula, por estarmos entre os política e socialmente conformados. Ganhamos influência junto aos palácios e câmaras, mas já não temos ousadia junto ao trono daquele cuja soberania não deve ser ignorada.

No início, a igreja era evangelizadora. Agora, meramente evangélica. Se no passado fazíamos história, no presente, nem históricos somos. Já não temos perspectiva quanto ao futuro. Perdemo-nos no tempo, e já não temos noção de eternidade.

Sim, há exceções e não são poucas. No entanto, fizemo-nos conhecidos não pelas exceções, mas pela regra geral. Se as exceções fazem o cristianismo invisível e militante, a regra geral dá corpo e forma à cristandade visível e já bem acomodada a este século. Se não podemos arrancar o cristianismo da cristandade apóstata, que pelo menos lhe estanquemos as apostasias.

Ontem o joio entre o trigo. Hoje, o trigo entre o joio. E, pouco a pouco, vai a erva daninha sufocando a boa semente.

O que aconteceu conosco? John Stott foi buscar três simples palavras para descrever a igreja evangélica de nossos dias: “Crescimento sem profundidade”. O seu diagnóstico é preciso e doloroso. O teólogo britânico referia-se não somente à igreja de seu país, mas também à do Brasil, pois não deixamos de ser um reflexo do que acontece no universo evangélico europeu e norte-americano.

Antes, a espiritualidade da igreja era aferida pela Bíblia. Hoje, pelo IBGE. Regozijamo-nos com estatísticas e gráficos. Será que a lição de Davi não é suficiente? O filho de Jessé, mais preocupado com o seu império do que com o Reino de Deus, ordenou a Joabe que levantasse o censo de Israel. Julgado pelo Senhor, aprendeu: Deus não precisa de multidões para estar entre o seu povo. Bastam-lhe três santos, e em nosso meio estará para sempre.

Por falta de senso, recorremos ao censo. Os recenseamentos, porém, não nos medem o cristianismo; limitam-se a aferir-nos a cristandade. Se aquele é pouco, esta é muita. É por isso que nos alegramos quando promovemos um político, mas não externamos a mesma alegria quando um missionário sai ao campo.

Neste reino de indiferença e mornidão, a pergunta faz-se império: “Como a igreja voltará a ser Igreja?” Em primeiro lugar, que nos voltemos ao cristianismo e fujamos à cristandade. Esta jamais deixará de ser visível e vistosa. Mas aquele, posto que invisível, que ressurja com as propriedades todas do sal e da luz. Assim recomenda o Senhor: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” Mt 5.16).

Em seu livro Cristianismo Básico, John Stott é incisivo: “O que então devemos fazer? Devemos assumir um compromisso pessoal com o Senhor Jesus, de coração e de mente, alma e vontade, entregando nossas vidas a ele, sem reservas. Devemos nos humilhar diante dele.

Devemos confiar nele como nosso Salvador e nos submetermos a ele como nosso Senhor; para então assumirmos nossos lugares como membros fieis da igreja e cidadãos responsáveis dentro da comunidade”.

Diante do exposto, urge resgatarmos o termo “evangélico”. Desgastado midiaticamente, tornou-se um sinônimo mero e ordinário de riqueza, sucesso, atrevimento e blasfêmia. Não me atrevo a apontar culpados, pois todos somos responsáveis pelo que vem acontecendo. 

Contudo, jamais haverei de isentar a famigerada Teologia da Prosperidade que, com a sua ação preferencial pelos ricos, transformou a igreja evangélica num arremedo teológico. Seus proponentes, sempre tão gabarolas e fanfarrões, substituíram a excelência da vida cristã pelo êxito de uma existência cheia de vazios.

Não quero a destruição da igreja evangélica, mas espero que ela seja também evangelizadora. Anseio que ela seja mais cristianismo que cristandade, que aumente como Reino e diminua como império. E que, crescendo, não venha a inchar. Ela não precisa minguar em quantidade, mas é urgente que venha a crescer em qualidade. Para que isso aconteça, é preciso que eu e você avivemo-nos pela Palavra de Deus.

Eu gostaria de ter dito tudo isso ao meu interlocutor durante o almoço de hoje. Mas tive pouco tempo. Já em minha sala, agradeci a Deus pela pergunta que me fez aquele homem. Num momento como este, as indagações são mais necessárias que as respostas, pois nos levam ao arrependimento e às respostas que somente Deus pode dar-nos.

Como herdeiros espirituais de Daniel Berg e Gunar Vingren, não fujamos à mensagem simples, mas eficaz, do Evangelho: Jesus Cristo salva, batiza com o Espírito Santo, cura, opera sinais e maravilhas e, brevemente, levar-nos-á para o Céu.

Que a igreja seja Igreja!

Obs. Li no oassembleiano.com através do pointrhema.com.br 
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Claudionor de Andrade é Consultor Teológico da CPAD, membro da Casa de Letras Emílio Conde, teólogo, conferencista, Comentarista das Revistas Lições Bíblicas da CPAD, apresentador do programa radiofônico “O Som da Profecia” da Rádio CPAD FM 96.1 em João Pessoa (PB), e autor dos livros “As Verdades Centrais da Fé Cristã”, “Manual do Conselheiro Cristão”, “Teologia da Educação Cristã”, “Manual do Superintendente da Escola Dominical”, “Dicionário Teológico”, “As Disciplinas da Vida Cristã”, “Jeremias – O Profeta da Esperança”, “Geografia Bíblica”, “História de Jerusalém”, “Fundamentos Bíblicos de um Autêntico Avivamento”, “Merecem Confiança as Profecias?”, “Comentário Bíblico de Judas”, “Dicionário Bíblico das Profecias” e “Comentário Bíblico de Jó”, dentre outros títulos da CPAD.


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